11 de outubro de 2021

Ah como eu queria que fosse

 Seria um grande foda-se 
se não fosse um adeus 

queria um eterno não sentir 
apesar de tanto doer

seria tudo um  sonho
se a realidade não fosse bem mais cruel 

seria um nós 
se não fosse a tesoura do tempo
que desfaz laços, corta caminhos e surpreende as costuras

seria lindo
se não fosse tão tão humano

eu te amo 

isso seria uma declaração 
se não fosse uma despedida 

24 de maio de 2021

sinto dores que não entendo 
sinto medo o tempo inteiro 

tem sentimentos que habitam e desconheço
tem dias que a morte não parece lamento 

vontade sumir daqui 
vontade de sair e fugir 
fugir de dentro de mim 
sumir pra não voltar 

desejando a morte 
senhor, estou prestes a pecar ? 

comida no prato 
amem
eles se distanciam de mim 
e eu também 

sei nem quem ando sendo 
alguém enclausurado 
rabugento e isolado 

alguém ferido 
mas que deve se manter calado 

há sombras que pairam aqui 
é pecado querer dormir? 

dormir pra fugir 
trabalhar para fugir 
sorrir para fugir 
fugir de ficar só 
 

fugir e só. 

3 de fevereiro de 2021

Dedos

dedos são membros engraçados 
dançarinos
imprimem marcas do tempo/espaço 

diferem pensar do agir 

assim como sentem o peso da caneta
o poder do teclado e
o penar das unhas roídas 

dedos dedilham alegrias e embalam vícios 

cercados de anéis ou de descaso
eles dizem muito sobre cada unidade, assim como representam muito bem o todo 
o corpo,
o ser e existir

Dedos! Não parecem pequenos perante o mundo, o dia a dia e nossas paranoias ? 

Dedos para poesia 
Dedos que derramam meu poder
e meu pesar 

Dedilhando os dias
agarro a vida,
afagando a alegria. 

21 de setembro de 2020

Madrugada fria  peito inflado tanto sentimento batendo nada muito claro.

Um presságio

grito dentro

fora calado


Outro cigarro 

dor, desejo 

sonhos 

e o gosto amargo

de ser quem não sei


Sou  lagarta

que entrou no casulo

sem saber
quando sairei.


muito vazio pra pouco espaço

muito dizer pra pouco rebolado


não estou na melhor fase

estou dentro do casulo


Um dia saio borboleta
e dou voltas pelo mundo 


8 de setembro de 2020

tempo do tempo

venho do tempo 
onde não há mais tempo 
tudo acontece rápido demais 
para os jovens argumentos 
 
O que entendemos sobre o tempo ? 
sobre quem somos e de onde viemos ?

sem enterrar umbigos 
aterramos rios e riachos 

sem medo do próprio descaso 
descaso com si próprio 
vendemos terras grilada
bebemos água cagada 
e achamos que nada 
nada disso 
afeta nossa rotina diária 

venho do tempo 
onde não sobra tempo 
falta 
4 horas de transito, 8 de trabalho 
2 de almoço 
que horas serei crítico e politizado? 

politicas e policias 
policias e milicias 
milicias  e malicias
não associe a mandinga

mandinga é a arte de correr com o tempo 
fazer do tempo, templo de aprender 
tornar-se senhora do tempo 
Sujeita que conseguiu se conhecer

No tempo que não se respeita 
os senhores e seus reinos 
onde a Terra, a água e o fogo 
são só elementos 

não elementares 

eu me desfaço 
como ampulheta 
me desdobro 
e deixo em minhas letras 
registro para a História.

7 de setembro de 2020

ibirapitanga

É da pele preta que essa voz fala

em nome da negrura dos meus sentimentos 

afirmo os acordos sórdidos 

e falsos consentimentos 

de quem teve seus direitos negados 

suas terras roubadas 

a cultura assassinada

e as vidas 

as vidas são jogadas a mercê do tempo 

do descaso e da violência 

só que eles não contavam

com a nossa resistência 


Eu, eu sou brasileira 

do projeto de Brasil que deu certo 

que miscigenou, clareou

ascendeu e consumiu 

Essa é a pátria que nos pariu 


Onde grilagem, milícia e estupro 

é tão comum 

que nem gera tumulto 


A juventude arrancada das ruas 

 3º maior população carcerária

indígenas, quilombolas e ribeirinhos

arrancados pela especulação latifundiária


Das nossas raízes querem arrancar todas

do nosso ventre à nossa alma. 

depois perguntam porque eu não estou calma 


Eu sou filha dessa terra, 

invadida por filhos da ignorância

que matam todos os dias nossas crianças 

na bala perdida

na água poluída 

na comida envenenada

na floresta devastada 

nos matam

tiram o direito mais humano 

de ser


Vistos como não humanos
temidos como meta humanos
em empregos sub humanos

assim se passam anos
gerações, 

mesmo sistema colonial
só que agora com filtro do Instagram


A negrura dos sentimentos
a mestiçagem da minha pele 

e minha paixão por mate guarani
me trouxeram até aqui 

sou filha da terra ibirapitanga

e quero rio pra bebe e banha

semente pra colher e plantar 

fogo pra cozer e alumia.

sou filha da terra
e dela ninguém vai me tirar

5 de setembro de 2020

sentidos turvos

Sinto meu corpo
estasiado, com medo
minha cabeça acelerada
estou doente.

Meu corpo sente dor
dor  no peito 
que o olho transbordou

roer unhas
dormir de mais
roer unhas
dormir de menos

Álcool
desespero
álcool
ainda sinto medo

Me sinto doente
nem letras saem direito
culpa do peso
peso da culpa

Ansiedade me perturba
as palavras seguem turvas
eu desisto,
por hoje é isto!